Laura Assis é uma poeta nascida em Juiz de Fora
(MG) em 1985. É graduada em Letras e mestre em Estudos Literários pela UFJF.
Atualmente cursa doutorado em Literatura na PUC-Rio.
Tem poemas, contos,
artigos e resenhas publicados em diversas revistas, jornais e sites.
Em 2011
fundou a Aquela Editora, selo independente por meio do qual publicou os livros
de estreia de poetas da cena de Juiz de Fora.
Em 2013 ficou em primeiro lugar
no V Prêmio Paulo Britto de Prosa & Poesia. Participou da Antologia de Poesia Plástico Bolha
(Organograma, 2014), da exposição Poesia Agora (Museu da Língua Portuguesa,
2015) e da 1ª Bienal do Livro de Juiz de Fora (2016). Faz parte da equipe de organização do Eco Performances
Poéticas. É autora de Depois de rasgar os
mapas (Aquela Editora, 2014) e Todo
poema é a história de uma perda (Edições Macondo, 2016).
Abaixo uma seleta com poemas seus já publicados e um inédito
Oberkampf
Nossos
pais morreram
no
mesmo acidente estúpido:
vimos
o sangue,
vimos
os corpos.
E
você me fez prometer
que
jamais
te
deixaria
Morávamos
no
mesmo
prédio,
no
mesmo
andar.
Sua
porta era colada
à
minha porta e
entrar
no seu quarto
ou
no meu
era
igual,
mas
ao contrário.
O
metrô passava a cada
três
ou quatro
minutos
a
estação era a cozinha
da
sua casa,
parecia
Oberkampf
mas
com menos
azulejos
amarelos.
Sua
voz ainda era
uma
força da natureza
que
me alcançava
na
sinestesia
dos
sonhos.
E
dos sonhos
acordei
e
nunca mais
escrevi
sobre cadernos
folhas
em
branco
desertos
palavras
escondidas
atrás
de
palavras
escondidas
E
as coisas passaram
a
ser como antes eram:
as
coisas,
só
as coisas
pouco
importa a ênfase
pouco
importa a verdade
o
que importa é a vida
(e
a vida
não
cabe).
[de Depois de rasgar os mapas, 2014]
#
Dia
Ninguém
sabe o que virá na trama estreita
da
tarde que se abre livre sob teus passos,
mas
neste espaço onde tudo muda,
e
ainda assim nada acontece,
a
comunicação é impossível
e
isso é o que me faz querer tornar possível
o
mundo que vejo em você.
Longe
daqui eu seria outra pessoa,
acordaria
cedo, falaria sobre o infinito,
desacreditaria
de desastres e livros
ou
escreveria poemas
sobre
ter o coração no lugar certo.
Mas
talvez explicando assim
você
pare de me olhar
como
quem não espera nada
além
de um acidente:
antes
das casas, casamentos e filhos,
depois
das mortes, das visitas, dos confrontos
— a
violência da sua presença
girando
todos os dias
na
órbita exata
das
minhas escolhas.
[de
Todo poema é a história de uma perda,
2016]
#
Ruína
Eu sei, éramos
indelicados
com quem
acreditava na vida:
vinte anos e as paredes
impregnadas
de espanto
e desprezo
pela revolução.
Escuta, não sobrou nada,
anulamos todos os sinais,
nossa presença:
um ponto
sob o radar, e tudo
se perdeu por lá
com a certeza de um
incêndio.
Espero
que agora
seus
olhos
ofusquem
as
luzes minerais
do
Boulevard Saint-Michel.
Espero
que você
esqueça
tudo
aquilo que se desfez
na
sombra clara do futuro
que
não soubemos adivinhar.
[inédito]
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